Mulherzinhas do meu Brasil varonil, num é que eu fui lá de novo? Me digam, vocês guentam mais um relato dum dia daqueles? Por que lá vai.
Hoje vamos num formato diferente: vou dividir o dia em dois atos, e um final. Roda!
ATO I: DE MADRINHA A ZÉ NINGUÉM
Cheguei hoje ao local de filmagem me achando: quando a mulher da produção me ligou, tinha me dito que eu seria madrinha de casamento da Maysa. Já tava me imaginando, eu e Mamá, naquele tete-a-tete antes da cerimônia, eu dando aquele apoio "vai, amigá!" na hora de entrar na igreja. Marcha Nupcial - close na madrinha - cai uma lágrima. Uma coisa linda.
Pois do nada começam a surgir outras madrinhas, na verdade, VÁRIAS outras. E eu descubro, quando chega uma velhota botando banca pra produtora - "aqui, minha filha, eu vou ser madrinha, tá? Só pra avisar que eu cheguei" - que são MAIS DE VINTE MADRINHAS.
Enquanto isso, uma produtora - que vocês vão perceber com o tempo, eu não gosto - começa a me olhar torto:
- Deixa eu ver você.. você.. não sei..
- O quê?
- Você era pra ser essa daqui, de cabelo curto.. mas, num sei.
- ...
- Acho que vamos ter que pintar o seu cabelo de preto.
- =o
- É, vai ficar parecida, ó..
- =o
- Na verdade, acho que você tinha que ser mais magra.
- Ah.. vaitománoseucu.
Produtora bitch sai de fininho me deixando ali, ainda em estado catatônico. Começo a planejar uma estratégia de fuga. "Se ela vier com esse papo de novo, eu finjo um ataque epilético". Mas não será necessário: ela já encontrou alguém pro meu lugar e desdenhosamente me coloca na fila dos convidados. Ufa.
A roupa de hoje é muito melhor, mas ainda não é aquela coisa maravilhosa. O cabelo escolhido foi o capacete de novo, desta vez com um ligeiro topete. O maquiador de hoje, muito mais divertido: uma bichinha bem bichinha, que fica analisando os bofes que vão chegando e pedindo a minha opinião.
- Ai, e esse, que tal? Gatinho, hein?
- É, bonitinho mesmo..
- Ai, mas de pochete, colega! Num quero mais..
- Hahuahuah nem eu.. =)
Na maquiagem, encontro as periguetes. Hoje estão todas de chapéu, então já viu né? Era um "ai, que eu pareço uma velha" de um lado, "eu não vou usar essas penas na cabeça" de outro, eu eu lá, doida pra alguém me dar um chapelão bem espalhafatoso. Puta mundo injusto, meo. Inclusive tem uma delas, que, sem sacanagem, sempre tá com os vestidos e os chapéus mais fodas. Alta, magra e loira, com cara de modelo. Pergunta que sempre me faço: Quem tá comendo ela?
Terminada a maquiagem, hora de Bofewatch: Loiro 2m e Javier tão aqui, mas tipo, sooo last season, né? Hoje, de bonitinho tem o loiro magrilin, um sósia do Leonardo Dicaprio (que eu discordo, mas tá beleza) e um garoto i-gual, eu disse I-GUAL ao Cadu na época em que eu o conheci (quem não sabe quem é imagine um cara bonito). O maquiador concordou comigo. Tamos em sintonia.
Na hora do almoço (no espaço 85), acabo sentando perto de loiro magrilin, que agora muda de nome: vira loiro do paletó, porque ele muito gentilmente me cede o seu casaco, já que meu vestido é tomara-que-caia e tá um frio do cão. Ponto pra ele. Ainda na mesa, uma gordinha insatisfeita com a roupa que deram pra ela, e uma americana que deu o golpe do greencard ao contrário: casou com um brasileiro e veio parar em Petrópolis. Imagina um Puxa-conversa nessa mesa, o que num ia sair.
Do almoço direto pra catedral. Parece que hoje as coisas vão ser mais rápidas. Valeu, Jayminho.
ATO II - O BOFE SURPRESINHA
Começam a espalhar os convidados pela catedral - dois por banco - pra gravar a noivinha andando até o altar. Me posicionam bem na frente, e lá vou eu aparecer de novo. Mamãe vai ter espasmos de alegria.
Produtora bitch coloca o loiro do paletó do meu lado - tá vendo? Até a globo querendo me desencalhar. Ele se saiu um ótimo acompanhante. A gente passa a filmagem inteira falando mal das véias chatas e do povo folgado da produção.
Falando desse jeito vocês já tão imagindo o loiro do paletó como uma dona fifi da vida, né? Mas não, ele é só uma pessoa que conversa com qualquer um: ele vai acompanhando o papo do interlocutor, o que faz que ele seja uma pessoa bem popular entre os figurantes. Se dá com todos. Eu tô achando que finalmente achei um bofe responsa nessas filmagens, quando acontece o seguinte diálogo:
eu:- Pô, esse pessoal da produção fica falando toda hora que eu tenho cara de época..
l-d-p:- Ah, mas você ficou muito parecida mesmo.
- Eles tão querendo dizer educadamente que eu tenho cara de velha né? Mas eu só tenho 22 anos..
- Ih, você é novinha!
- Pois é.. =)
- Mas é assim mesmo, eles sempre acham a gente mais velho.. eles me deram 22 anos..
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(pausa dramática)
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- Ahr, é mesmo, e você tem quanto?
- 17.
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(pausa dramática)
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Gente. Pedofilia, mermão. Ca-de-ia. 17 anos. Putaquepariu.
Continuei conversando, mas ainda em choque. Ele ainda falou que tinha namorada, e tals, que ela tinha minha idade, ficou elogiando a minha brancura (!), mas eu não ouvia mais nada. Só conseguia visualizar que eu, do alto dos meus 22 anos, tava dando molezinho prum moleque de 17 anos. O que eu não imaginava é que o pior ainda estava por vir.
Do nada, loiro17 me mostra uma menina, que era da produção. Diz que ela é casada com um cara barbudo que também trabalha na minissérie, um daqueles tipo armário. Conta que ela, no Quitandinha, pediu que ele lhe guiasse no hotel, pra que ela conhecesse onde cada caminho dava (no pun intended). Até que eles chegaram numa porta que dava pra um salão escuro, que também não levava a lugar nenhum. Foi quando ela começou a se jogar em cima dele. Logo depois, o marido dela passou por lá procurando por ela, que se encondeu junto com o loiro17, este que ainda tentava se desvencilhar dos tentáculos da produtora safadinha. Com a aparição do marido, ela acabou desistindo da investida.
Eu ainda digerindo a informação, quando loiro17 começa a falar de suas conquistas anteriores, que as mulheres mais velhas sempre ficam loucas com ele. Que ele também adora e que a pouco tempo atrás saía com mulheres de 30, até 40 anos. E que ainda ganhava um dinheiro com isso.
É ISSO AÍ QUE CEIS LERAM. Loiro17 era garoto de programa.
Pensei: Sifudê que esse cara é isso mesmo. Sa porra tá querendo me enganar. De acordo com o que ele falou, aos 15 anos ele já era puto! Vai à merda. Caôzeiro.
Mas aí pensei de novo: Meo, quem em sã consciência inventaria uma história dessa? Contar pruma mulher que tu é um gigolô num é tipo falar que você é herdeiro de uma fortuna, que é um médico ou adevogado de sucesso, ou que faz trabalho voluntário com criancinha e ou/véinhos. A chance da outra pessoa ficar enojada e discretamente se distanciar é muito grande.
Por outro lado, vamo combinar: uma pessoa que finge que é prostituto pra impressionar os outros, merece a nossa atenção, né não?
A história dele é a seguinte: O pai de gigoloiro (vamos chamá-lo assim, ok?) era dono de um bordel que, segundo ele, era o melhor da cidade: um tal de Vênus Alguma Coisa, no Independência (peço ajuda aos meninos leitores deste blog, se eles existem). Gigoloiro cresceu, então, neste ambiente de promiscuidade. Aos 10 anos, ele era responsável por acordar as putas, o que fazia todos os dias, encontrando as pobres em seus estados mais deploráveis e peladas, é claro. Aos 15 anos, ele conheceu uma amiga do pai, que já era mãe de um moleque de 8 anos. Ela era bonita, e vivia fazendo elogios a ele. Até que um dia ele deu um chega nela. Ela hesitou, mas pegou.
Depois disso ela passeava com ele na frente das amigas, tirando onda (gorfei). As amigas, claro, ficaram todas maravilhadas com aquilo, até que uma falou "de brincadeira", que também queria o gigoloiro. Foi quando a pedófila com vocação pra cafetinagem falou: "Quer? Então vai ter que pagar." E ela pagou. E outra. E mais outra. E gigoloiro foi fazendo uma amiga atrás da outra. Se não ganhava dinheiro, ganhava presentes, passeios no Rio, etc, etc.
Gente, juro. Ele num é nenhum Cauã Reymond não, é uma cri-an-ça, um molequinho, magrelinho, que aos 15 anos devia ser muito menor. Antes que eu comece a vomitar aqui, vou resumir a ópera dizendo que eu não prestei mais atenção em mais nada da gravação depois disso, só fiquei ouvindo às milhares de histórias de gigoloiro, do bordel do pai.. houve até uma breve discussão sobre o tema "no sexo zero in the city imperial", que claro, vai enriquecer ainda mais o nosso documentário.
FINAL
No final da gravação, vejo a produtora safada puxando gigoloiro em um canto. Quando ele volta eu já tô com aquela cara de "me conta senão te mato". E ele contou: a produtora chamou pra uma cervejinha depois da gravação, no hotel onde eles estão ficando. Ele vai, disse, "na inocência". A-ham. Hoje tem.
Antes de ir embora, a troca de roupas. Os meninos tão com tanta pressa, que acabam trocando de roupa na nossa frente. Gigoloiro, Cadu 2, Leonardo DiCaprio, tudo de cuequinha. Essa figuração tá uma safadeza que só.
A gravação hoje terminou cedo (17h30), e a produtora bitch começou a separar algumas pessoas pra filmar amanhã. Ela fingia que não me via, pra variar. Mas eu finquei o pé até o produtor Topo Gigio me escolher pra filmar amanhã. Produtora bitch, não estraga a minha diversão. Até porque eu tô louca pra saber no que deu a "cervejinha" da produtora safada e do gigoloiro.
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A quem interessar possa: gigoloiro largou dessa vida, segundo o próprio, depois que foi morar com a mãe, que é bem mais rígida que o papai do bordel.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Diário de uma figurante 2 - Reloaded
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