quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diário de uma figurante 3 - Revolution

Então gente, sei que vocês se apegaram a esses testamentos que eu escrevi na última semana, mas devo dizer que esse é o último. Minha carreira na figuração c'est finit.

Mas antes, vamos por partes.

  • Gigoloiro não apareceu hoje, o que pra mim foi como se eu tivesse ganhado na loteria e perdido o bilhete. Meu, não me deixa na expectativa de uma fofoca, e não compareça. NUNCA. O detalhe é que produtora safada e respectivo marido também não estavam, o que já me fez imaginar um assassinato duplo no hotel York, e o barbudo foragido da polícia por crime passional. A conferir.

  • Produtora bitch strikes again: depois de me deixar meia hora esperando pra saber se eu ia num velório ou num ônibus escolar, ela decide me colocar de "passante", aquele transeunte que passa pela cena. Não satisfeita, ela ainda decide que eu vou ser MÃE de DUAS ADOLESCENTES e um BEBÊ, cujo carrinho eu tenho que empurrar em cena. Eu tenho cara de velha, já entendi, mas afudê.

  • Terminada a gravação dessa cena, em que eu tive inclusive que gravar fingindo que empurrava um carrinho, me disseram que eu teria um outro personagem, numa festa. Depois de almoçar, bora lá trocar de roupa, refazer cabelo, maquiagem, whiskas sachê. E foram 4 horas, eu disse QUA-TRO HO-RAS esperando já pronta. Completamente pronta. Pra na hora de gravar, fingir que está entrando na festa, e só. Dois minutos gravando, por quatro horas de espera.

  • No final da gravação é que eu percebo a grande esperteza de produtora bitch: aposto que vocês já estavam achando ela mais boazinha, um amorzinho, por que "olha só, ela até te escolheu pra fazer um personagem, né?" Ocú. A primeira coisa que a mocréia diz quando me vê: "Você não vem amanhã. Apareceu muito, não pode gravar mais." Grande estrategista, produtora bitch assim "me queimou" para a figuração. Ao me dar um personagem, a vaca tava garantindo que eu não voltasse mais lá. Bri-ga-dão.

E assim me despeço dessa vida de cão. Mas, sinceramente, tô aliviada. Por mais divertido e interessante que fosse, já estava me desgastando com as horas e horas de espera, com a petulência e o nariz em pé dos empregados da Vênus Platinada, com o tratamento de LIXO que os figurantes recebem. Não bastasse o tempo interminável que eles nos deixam em stand by, ainda nos deixam plantados em cena pra nada, enquanto ainda estão acertando detalhes técnicos como iluminação, cenografia e áudio.

Hoje eu fiquei, num frio de 8º, com um vestido tomara que caia de tecido leve, e ninguém foi capaz de me dar um agasalho enquanto eu esperava, em pé. No final da cena, eu tiro os sapatos e o meus pés tão sangrando, e eu nem senti, porque eles ficaram anestesiados pelo frio. Tudo pra ficar ainda OVINO GROSELHA do diretor de Olga. De Olga, meo. Aquela(e) merda.

Enfim, foi divertido, mas acabei descobrindo que não sou "humilde" o suficiente pra esse tipo de trabalho. Não acho que figurante tem que esperar e aguentar qualquer coisa mesmo porque é ninguém na noite. Acho que ser diretor da Globo é grandes merda, ser produtor então...

Mas pra não terminar esse post com um "Proteste Já" da vida, vou pontuar algumas coisas interessantes que aconteceram hoje.

- Antes de me escalar como mãe, produtora bitch me colocou como acompanhante de um véinho. Danou-se. Além do velho ter ficado todo vermelho ("nossa, assim a gente fica até cheio, né?), ele ficou o dia inteiro soltando gracinhas. Que eu ia ser contratada da globo, que tava muita elegante, etc.

- A equipe da InterTV foi gravar uma reportagem no set e quem que a coleguinha Jaqueline Silva veio entrevistar? Hã? Hã? Rapidamente disse que não podia. Mas é rodi que eu vou dar entrevista por aí mostrando que eu sou uma jornalista formada desempregada que fica fazendo bico de figuração. Tá doida?

- Bofewatch hoje foi fraco. Os mesmos de sempre, né? Enjoa.

- O momento mais emocionante de hoje foi quando o maquiador passou um batom Christian Dior em mim. Hiperventilei.

- O momento mais broxante foi quando a menina que tava do meu lado deu um caguei pro batom porque não sabia se Dior era de comer ou de passar no cabelo. Simata.

- Eu, que tinha chamado os meus penteados anteriores de "capacete", mal sabia o que me esperava. Junto com o vestido mais legal que eu já tinha usado nessas filmagens, um preto com uma fenda na frente e um laçarote nas costas, o cabeleireiro me fez o verdadeiro capacete, aquele redondinho mesmo. Foi olhar no espelho e constatar: era a Elvira, a Rainha das Trevas. Fotos em breve.

- Tava tão puta com tudo e com todos no final da gravação, principalmente por que me sumiram o arquinho de oncinha roxo e meu guarda-chuva, que acabei fazendo uma traquinagem: afanei uns óculos escuros sessentinha que alguém tinha deixado em qualquer quanto lá do figurino. Vou pro inferno? Fuó-da-se. Vou no style.

Hoje a galera da produção e alguns figurantes iam se encontrar no tal do Happy Hour do Petrô, e me chamaram pra ir junto. Acabei voltando pra casa, porque só o que eu queria hoje era chegar em casa e cuidar dos meus pézinhos, e comer, porque putaquepariu, depois do almoço só rola água naquele set.

A partir de sexta as filmagens recomeçam no Rio. Passo a bola aqui para alguma das minhas amiguinhas mulézinhas que queiram encarar a figuração de Maysa, e quem sabe, serem as novas autoras do diário de figurante. .

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E não se preocupem porque eu vou investigar essa história do Gigoloiro. Fiquem ligados nos próximos capítulos.